Linkultura

por Nereide Michel em 26/06/2024

Lançamentos recentes enriquecem as prateleiras da biblioteca paranaense com títulos que remetem aos mais diversos temas e públicos. História, cultura, vivência, fantasia… Ler é o caminho para desvendar o desconhecido e ampliar o horizonte.

Para visibilizar a luta dos indígenas do Paraná, Jr. Bellé escreveu “Retorno ao ventre – Mỹnh fi nugror to vẽsikã kãtĩ”.  Traduzido para o kaingang, o livro narra a história violenta vivida pelos povos originários do estado reforçando suas raízes ancestrais. Com uma narrativa poética embasada em extensa pesquisa documental, a obra atravessa as consequências da marcha para o oeste e o processo de embranquecimento das cidades paranaenses. A publicação foi inspirada na trajetória pessoal do autor, que nasceu em Francisco Beltrão, no sudoeste do estado, quando descobriu que era descendente de uma criança indígena, possivelmente kaingang, violentada por um bugreiro alemão. Foi o autor que tomou para si o compromisso de trazer o passado para o presente preenchendo as lacunas da memória com ficção a partir dos relatos da tia Petrolina, que lhe revelou o segredo da ancestralidade indígena da família.

Bilíngue, o livro foi escrito em português e traduzido ao kaingang pelo professor André Caetano, liderança da T.I. de Serrinha, no Rio Grande do Sul, com revisão final do professor Lorecir Koremág. Já a orelha é assinada por Eliane Potiguara, uma das mais importantes poetas brasileiras e fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas, enquanto as ilustrações são da artista e ativista Moara Tupinambá. 

ONDE ENCONTRAR: Editora Elefante 

 “Os Armazéns na Cidade, a Cidade nos Armazéns”, com este título enlaçado afetivamente com a cultura curitibana, o jornalista Sandro Moser e a arquiteta e professora Cleusa de Castro registram o cotidiano de uma época na qual a arquitetura destes comércios se entrelaça com a história, os hábitos e as tradições dos moradores da capital paranaense.

 Organizada pela arquiteta Thais Glowacki e com fotografias de Gilson Camargo, a obra é dividida em duas partes: na primeira, Os Armazéns na Cidade, Cleusa de Castro faz uma análise dos estabelecimentos remanescentes em Curitiba, examinando suas características arquitetônicas únicas com foco no patrimônio material. Os antigos armazéns de secos e molhados, que são edifícios de caráter arquitetônico não erudito e esteticamente não tão interessantes, podem ganhar relevância a partir  dos significados que imprimem na história e cultura de um lugar. 

Já na segunda parte do livro, A Cidade nos Armazéns, o olhar do jornalista Sandro Moser captura o fluxo da memória coletiva, revela as histórias das pessoas e acontecimentos que se desenrolaram porta adentro desses espaços comerciais e das circunstâncias sociais, econômicas e políticas que influenciaram o desenrolar da história. A cultura do fiado, a transmissão de saberes entre gerações, a ressignificação dos espaços e a relação com a comunidade vizinha estão no âmago desses tradicionais “negócios” – como uma parte da população costumava chamar armazém.

João Azevedo, mais conhecido como João Boiadeiro, costumava reunir familiares e amigos para contar as lembranças da época em que levava a vida como tropeiro, no início da década de 1950. Natural de Santo Anastácio, em São Paulo, ele viajou por diversas terras distantes enquanto liderava comitivas de animais a cavalo. Em 2020, aos 95 anos, ele morreu de velhice. Vivência que o genro do patriarca, Jorge Antonio Salem, registra no livro “Memórias de um tropeiro”. Vizinho do personagem principal da obra em Nova Esperança, no Paraná, o autor ouvia atentamente os detalhes narrados sobre experiências vividas no campo e nas estradas e gravou, ao longo dos anos, muitas dessas conversas.

Para conferir ainda mais fidelidade aos relatos do sogro, o autor visitou pessoalmente cidades próximas a Ponta Grossa, por onde trotavam as caravanas que saíam do Rio Grande do Sul em direção a Sorocaba em São Paulo. Além disso, as páginas são recheadas de fotografias de arquivos pessoais que não apenas ilustram as aventuras de João Boiadeiro, mas também mostram registros históricos datados entre as décadas de 1950 e 1980.

ONDE ENCONTRAR: Amazon

Ave Lola é teatro e muitas outras formas de arte. Entre estas, a literatura, como atesta o recente lançamento do livro infantojuvenil “Casa da ÁrvoreContos de Floresta e Gigante’, contos com a assinatura de Ana Rosa Genari Tezza, Jamilssa e Luís Fernando Nicolosi, e ilustrações de Gabriel Rischbieter.

O livro nasceu do desejo dos artistas do Ave Lola de dar continuidade às publicações literárias voltadas para crianças. Em 2023 foi lançado “Casa da Árvore – Contos para Ler e Colorir”, com foco em crianças de até 10 anos. E agora a nova obra surge para o público infantojuvenil. A nova publicação é um convite para mergulhar no universo de personagens que se aventuram em três histórias fantásticas e misteriosas: Sophia, A Pequena Gigante em: “O Festejo Celestial”, de Ana Rosa Genari Tezza, “A Pequena Abelha e a Árvore Alta”, de Jamilssa, e “O Que Fazer Quando a Tristeza For Grande”de Luís Fernando Nicolosi.

ONDE ENCONTRAR: Ave Lola Espaço de Criação, Rua Marechal Deodoro, 1227.

Inspirada nas fábulas tradicionais que contava à filha e fascinada em criar mundos paralelos com as palavras, Zélia Brandão escreveu “Mosaico – 120 Contos de Fada”, editado pela Chiado Books. Uma coletânea de pequenas histórias complementares, na qual descreve, por exemplo, a trajetória de um homem solitário que confronta um monstro marinho e é aclamado rei, passa pelo surgimento do amor em sua vida, o casamento, o nascimento da princesa e a luta para proteger o Reino das Luzes. Enquanto os personagens se unem para superar diferentes obstáculos, os pequenos leitores podem aprender formas de lidar com perigos, medos, tristezas e outros sentimentos. 

Resultado do desafogo em um período de desafios e frustrações profissionais, o livro foi a forma que Zélia Brandão encontrou de  dialogar com a filha sobre o mundo real. E, mais do que isso, ensinar uma importante lição: na vida, a luta contra dificuldades é inevitável, porém não se intimidar e enfrentar as opressões e injustiças é essencial para alcançar pequenas e grandes vitórias.

ONDE ENCONTRAR: Amazon

No livro “Laura. Uma Maternidade Especial”, Suely Schmidt compartilha os desafios, as descobertas e as alegrias de criar a filha, desde quando no quarto do hospital, há 33 anos, foi informada que ela tinha Síndrome de Down. Mais tarde, seria diagnosticada com autismo severo. A obra, editada pela Inverso, também trata de temas essenciais como a falta de uma rede de apoio para famílias em situações semelhantes, estigmas sociais e inclusão – da dificuldade de encontrar escolas adequadas para atender às necessidades de Laura, passando pela busca por tratamentos médicos e o acesso a medicamentos, até o suporte necessário para enfrentar o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19.

Para além de ser uma história de luta e superação, “Laura” é também uma celebração à diversidade e à beleza única de cada ser humano. O nascimento dela aproximou a família do setor social. Suely impulsionou uma série de iniciativas importantes em prol da causa das pessoas com deficiência. Deu palestras, ajudou a fundar a Reviver Down, uma associação que luta em prol de pessoas com a síndrome de Down, foi uma das fundadoras da Lar Assistido, organização para divulgar a importância de criar moradias assistidas para pessoas com deficiência intelectual, além de participar da criação do Ambulatório de Síndrome de Down no Hospital de Clínicas.

ONDE ENCONTRAR: Editora Inverso, rua Dr. Goulin, 1532.

Um título forte para um livro que tenta explicar às crianças um momento desafiador para a família. Com esta proposta Danielle Sommer, autora, e a ilustradora Daphne Lambro, ilustradora, lançam o sexto livro juntas: “Tem alguém com câncer”.

A história, contada em rimas e com muitas ilustrações, mostra desde o diagnóstico da doença, quando a mãe descobre que está com câncer, até o tratamento, contando de forma singela as idas ao hospital, o tratamento, a queda do cabelo e a importância da união para vencer essa batalha. Um trecho do livro diz, por exemplo: “O remédio é tão forte… que faz o cabelo cair. Mesmo assim, a beleza dela não vai sumir!”

Nas páginas finais da publicação, Mara Albonei Dudeque Pianovski, médica cooperada da Unimed Curitiba, empresa que patrocinou a publicação, e especialista em oncopediatria, explica, de forma acessível, o que é o câncer e dá dicas de saúde.

ONDE ENCONTRAR: https://www.editorainverso.com.br/pagina-de-produto/tem-alguem-com-cancer

Divulgação

Com uma trajetória multifacetada como artista visual, curador, jornalista e gestor cultural, Edson Busch Machado assina o livro “Quem tem Medo da  Cultura?”, um importante registro histórico da produção cultural brasileira, especialmente de Santa Catarina, seu estado natal. A obra, dirigida a pesquisadores, professores, estudantes de arte, gestores culturais, curadores e artistas, oferece uma perspectiva abrangente sobre a arte catarinense ao longo das últimas cinco décadas. Com aproximadamente 600 páginas e referenciando cerca de 2 mil artistas, museus e instituições culturais, o livro já é de consulta obrigatória para estudantes em cursos de artes e ciências humanas em todo o país.

O lançamento em Curitiba aconteceu em maio na Artestil Galeria de Arte.