Linkultura

por Nereide Michel em 29/08/2024

Um dia é pouco para celebrar os 80 anos de Paulo Leminski – de expressões e inspirações múltiplas, escritor, poeta, músico, crítico literário, jornalista, publicitário, tradutor, professor… Sempre com os pés enraizados no solo paranaense. Como ele gostava de se comparar, era como o pinheiro, não poderia ser transplantado. Ao alimentar-se da seiva de sua natureza nutriu uma personalidade mítica no cenário das artes brasileiras. Paranista de identidade tem obra reconhecida em um país de origem plural.

Há 80 anos, o universo celebra o aniversário de Paulo Leminski no dia 24 de agosto. Vinte e quatro horas destinadas a concentrar toda uma memorabilia, a ser resgatada em uma data tão especialmente comemorável. Desafio que parecia impossível de ser superado mas que o Instituto Paulo Leminski, posto à prova, revelou ser possível. Em um clima tipicamente curitibano – chuva fina e temperatura que pedia japona –  aconteceu no palco mais adequado para reverenciar o aniversariante, o da Pedreira Paulo Leminski, o Festival Paulo Leminski.

TRILHA SONORA DOS OITENTA

Na programação musical, destacados nomes locais e nacionais, que contaram com a influência e inspiração do aniversariante em seus trabalhos: A Banda Mais Bonita da Cidade, Slam das Gurias e Vitor Ramil, que gravou e musicou vários poemas de escritores brasileiros, entre eles, Paulo Leminski, como na canção “Uma Carta uma Brasa Através”, faixa do último disco da cantora Juliana Cortes, que fez uma participação especial na sua apresentação.

Também no palco da Pedreira estiveram Paulinho Boca de Cantor e Arnaldo Antunes. Paulinho, um dos fundadores dos “Novos Baianos”, em 1981, lançou o seu segundo álbum solo – “Valeu” –  com o nome de uma das canções compostas por Paulo Leminski.  Arnaldo Antunes tem uma trajetória que se encaixa perfeitamente com as obras de Leminski. Foi ele quem deu a voz ao sucesso “Luzes”, com música e letra do poeta curitibano, que ganhou projeção nacional e internacional. 

A trajetória da Banda Blindagem não pode ser dissociada da de Paulo Leminski. Lançado em 1975, o grupo ganhou novos rumos com a entrada de Ivo Rodrigues, que levou para o quarteto suas parcerias autorais com Paulo Leminski. Integrada hoje por Alberto Rodrigues (guitarra/voz), Paulo Juk (baixo), Paulo Teixeira (guitarra/voz), Ruben Romero (bateria) e William Vox (voz/violão), o Blindagem intercalou, no show de homenagem, músicas com muitas histórias e recordações de trabalhos – como a do primeiro LP, recheado de composições de Ivo e Leminski, como “Marinheiro”, que estourou em todo o país.

A banda compartilhu o palco com Rogéria Holtz, intérprete de artistas paranaenses, entre eles, de Leminski e Alice Ruiz. Além de fazer backing vocal no Leminskanções, ela gravou “Filho de Santa Maria” e “Hoje tá tão bonito”, assinadas pelo poeta. Também o cantor Gabriel Teixeira, filho de Paulo Teixeira, guitarrista da banda, que foi o diretor musical do espetáculo “Por um Lindésimo de Segundo” – uma homenagem à vida e obra de Leminski – participou da celebração do Blindagem.

Leminskanções, uma das mais preciosas compilações da obra de Leminski, presença obrigatória no Festival, foi idealizada e produzida por sua  filha, a também escritora, compositora e produtora Estrela Leminski. O disco, lançado em 2014, com muito sucesso, traz interpretações de Estrela, Téo Ruiz (guitarra, voz e produção executiva), Ruan de Castro (guitarra), Douglas Vicente (bateria) e Gustavo Slomp (baixo), além de participações de nomes como Arnaldo Antunes, Serena Assumpção e Swami Jr. O cantor Zeca Baleiro, convidado especial da apresentação na Pedreira, participou do projeto com a canção “Se Houver Céu”. 

NA LITERATURA

Também fizeram parte do Festival Paulo Leminski 80 anos, quatro lançamentos editoriais: “Instantes “, da ilustradora Juliana Mota, com poemas infantis de Paulo Leminski, pela Editora Saraiva Educação; o livro infantil “A Lua no Cinema”, do ilustrador Marcio Levyman, pela Editora Ficções; a nova edição de “Metaformose – Uma Viagem pelo Imaginário Grego”, com prefácio de Eduardo Jorge de Oliveira, pela Editora Iluminuras, e a publicação da Revista Pernambuco – Especial Paulo Leminski, organizada por Mario Hélio. 

Um dia foi pouco para celebrar as múltiplas facetas do aniversariante, mas foi o bastante para que o coração curitibano palpitasse, com emoção, diante da importância e repercussão, sem limite territorial, do trabalho de um filho da terra dos pinheirais.

O Festival Paulo Leminski teve como patrocinadores ITAIPU Binacional, Banco do Brasil e Governo Federal – Brasil, União e Reconstrução.